segunda-feira, março 7

História minha... quem sabe tua?

Eram 16h15 quando o meu pai, a minha avó e eu nos dirigíamos para a sala de espera... ainda faltavam 15 minutos! Sentia-me ansiosa por ver como ela estava, e ao mesmo tempo receosa... na noite anterior ela tinha sido levada de urgência para o bloco operatório! Estaria melhor? O meu pai foi falar com a enfermeira por causa de um papel que confirmava a presença dela nos cuidados intensivos do S. João. Burocracia. Treta legal. O meu pai voltou a sentar-se ao nosso lado. A enfermeira voltou para a sala onde estavam os pacientes. A hora da visita aproximava-se mas ainda não tinham anunciado quem esperava. Os ponteiros do relógio marcavam segundo após segundo, e eu seguia-os com o olhar, lá no alto, pendurados na parede, distantes e indiferentes. A enfermeira voltou e chamou o meu pai. Começou-se uma conversa que eu não conseguia captar mas percebi que algo não estava bem. A minha avó juntou-se à conversa, eu permaneci quieta, inerte na cadeira. A minha avó começou a chorar e o meu pai tinha lágrimas nos olhos! O meu pai! Nunca o vi chorar! O meu pai não!!! O que se tinha passado?! Não! Não pode! Tenho que saber! Levanta-te!! Não consigo! Não tenho coragem! Não estou preparada para ouvir aquilo que penso! Se alguém disser o que estou a pensar, não sei... não sei o que faço! Ninguém fala! CALEM-SE TODOS!!!!!! De repente ouço: "Ela está no bloco operatório! Vamos!" Era o meu pai! Descemos ao piso zero... eu precisava de sair dali! "Vou carregar o telemóvel, encontro-vos lá em cima!"
"Talvez não, afinal tens que carregar agora? Não pode ficar para depois?"
"Não!"
"É que podemos não voltar lá acima!"
"Porquê?"
"Ela pode não sobreviver!"
Viro-me e dirijo-me para a caixa multibanco! Ainda ouço a minha avó dizer: "Encontramo-nos lá em cima!". Não a vi, não podia deixá-la ver-me chorar! Carreguei o telemóvel e dirigi-me para o parque em frente ao hospital... tinha comigo a companhia de dez cigarros e um iced tea de pêssego. Comecei a fumar. Comecei a chorar. Bebi. Solucei. E chorei. Pensei! Pensei muito nela! Recordei um momento em particular com ela e com o meu pai em que pude ter um olhar diferente sobre ela... vi a menina dentro dela, mais brincalhona! Gostei e ri com ela! Rimos os três como uma família... como nunca nos tínhamos rido!
Eles não acreditavam que ela conseguisse passar mais uma volta naquele precipício! Eles perdiam a fé aos poucos... eu perdi-a toda de uma só vez! Não imaginei a possibilidade de um novo amanhã! Era o fim! Num ímpeto de raiva quis bater-me, espancar-me... eu merecia sofrer!! Eu nunca lhe havia antes dirigido uma palavra ou um gesto de carinho... muito menos de Amor! E a minha última conversa com ela tinha ocorrido sob o efeito de calmantes... ela estava drogada!! E nem aí eu fui capaz de lhe dizer que a Amava!! Nunca pensei vir a poder arrepender-me! Agora podia ser tarde demais! Precisava falar! Precisava desabafar! Peguei no telemóvel e falei com o Hugo... naquele dia ele não estava de serviço lá... Boa! A Ana podia vir cá... mas é sábado... ela está com o namorado! E ainda não lhe contei nada disto! Não! Ia ser forte demais! Depois, com calma, conto! E já não falo com ela há algum tempo! Ela pode pensar que só lhe falei por tar a precisar! Interesseira, não! Isso não! Esquece! O Ricardo? Esquece... está nos treinos, não levou telemóvel! Estou sozinha! Meu Deus, estás aí? Aproxima-se uma cigana e pede-me um cigarro, ao que simplesmente respondi, ainda com lágrimas nos olhos: "Desculpa mas tenciono fumá-los todos!" Ela percebeu... e foi embora! Já não sabia o que fazer! Não podia fazer nada! Espera! A mãe da Sara tem poderes paranormais (ou diz que tem)! Vou-lhe pedir que reze por ela! Mal não faz! Ela respondeu que não pode, têm visitas e o dia seguinte era domingo, ao domingo não se pode rezar! "Obrigada", mas amanhã seria já tarde demais! Ela não percebeu a minha angústia... ou não quis perceber! Tudo dependia da minha promessa a Deus! Todos prometem qualquer coisa nestas alturas! O que se deve prometer? Uma ida a Fátima? Demasiado vulgar... Os pensamento voaram... os cigarros acabaram! Foi o sinal! Fui para dentro e encontrei o meu pai, andava à minha procura! "Tive lá fora no parque a beber o iced tea!" Os olhos não enganavam e tu viste que eu chorei! Não podia nunca esconder isso... A leitura dos olhos vermelhos e verdes, inchados! Chorou! A minha avó estava à minha espera na sala de espera dos cuidados intensivos. O meu pai voltava ainda ao bloco operatório! "Encontramo-nos lá em cima!" Subi ao 6º andar, percorri aquele corredor longo, que parecia prolongar-se cada vez mais, e eu no meu passo lento, de quem não quer antecipar o inevitável. Cheguei à sala de espera e não vi a minha avó, só lá estava uma senhora. Perguntei-lhe se tinha visto uma senhora idosa, baixa, com cabelos loiros. "Não!" Apareceu a enfermeira... perguntei-lhe... ela reconheceu-me e disse que não valia a pena procurá-los porque eles acabariam por lá ir! Sentei-me e mandei mensagem ao Ricardo! Ele pede para lhe ligar... pede-me para desabafar! Fui para o largo dos elevadores, perto das escadas! Aqui é mais frio! "Estou? Ricardo?" A bateria dele foi abaixo... um toque dele! "Ricardo?" Foi abaixo outra vez!
"Então Ricardo? Que se passa?"
"A bateria não me deixava falar contigo... atirei o telemóvel contra a parede! Mas fala comigo! Como estás?"
Contei o que se tinha passado... Falamos um bocado! De repente o elevador parou ali! "Pode ser o meu pai, deixa ver!" As portas abriram-se e saíram de lá três ou quatro enfermeiros a levar uma maca com alguém lá dentro... Espreito... É ela...
Sinto uma lágrima a cair rapidamente pela minha face e a acabar no pescoço. Ela conseguiu! Ninguém acreditou! Mas ela venceu outra vez! Já foram muitas... mas ela é mais forte do que parece! Ela é a minha mãe!

Este último fim-de-semana ela pediu-me para lhe lavar e cortar o cabelo... Assim o fiz! Depois de cortado, peguei num secador e comecei a secá-lo! Com cuidado para não a magoar, fui, aos poucos, esticando-lhe o cabelo! "Que tal? Estás a gostar? Aqui a tua filha ainda sabe umas coisas!" Disse eu com um sorriso! "Vou fazer de ti minha cabeleireira pessoal!" E deu-me um beijo, ja com lágrimas nos olhos! Foi o meu maior prazer destes últimos dias! E valeu por todos os dissabores que senti, por todos os conflitos qe enfrentei, por todas as noites em claro, por todas as lágrimas... Porque ela é a razão, e ela merece tudo isso!

]JuLiE[

2 Comments:

Blogger ]JuLiE[ said...

Este comentário foi removido pelo autor.

6:45 da manhã  
Blogger Menina Marota said...

Um beijo para ti, cheio de Amizade, do coração de uma Mãe....

11:53 da manhã  

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