sexta-feira, agosto 5



O ambiente da sala de espera torna-se cada vez mais pesado à medida que chegam novos pacientes... Estamos há muito a entreter o olhar para deixar os ouvidos atentos à chamada do nosso nome!Já se passaram hora e meia desde que cheguei... já dei o "litro", já fiz vários exames... a médica disse que vejo bem e não comentou a minha audição... não me preocupo!Na sala veem-se, de um lado, vários homens... conhecem-se, devem trabalhar juntos pelo teor da conversa... do outro lado, pessoas de idade não conversam, lêm folhetos... eu estou nomeio, perto de descolhecidos com a mesma perspectiva da porta... de frente. A sede começa a tirar-me do sério, mas tenho de passar por tanta gente até ao "bebedouro", que logo perco a vontade!Olho o relógio, apenas cinco minutos passaram desde a última vez... tenho, eu também, que entreter os olhos, por isso observo quem me rodeia... e perco-me a imaginar como será a vida de cada um deles. Invento personagens neste pequeno palco e entretenho-me a puxar os fios das marionetas!Farta do teatro olho novamente o relógio e repar que mais pessoas o fazem... ouvem-se suspiros, conversas forçadas de quem quer passar o tempo, e a minha respiração ofegante por falta de algo que não água, mas não menos importante... sinto a língua seca!Numa fracção de segundos a minha mente desespera... «Vou masé lá fora fumar um cigarro para acalmar»... prcuro as escadas e escondo o meu fumo para não prejudicar narinas sensíveis!Respiro devagar cada beijo do cigarro e a nicotina traz-me de volta ao normal... sinto-me agora, gradualmente, mais confiante para ir beber... a boca seca é que o exige e o resto do corpo limita-se a obedecer! Pego no copo e encho-o... levo-o comigo para outro banco, para outra perspectiva da porta, e agarro uma revista... atitude de desespero!Já com pouca água no copo ouço o meu nome... «Mais testes para a minha paciência? Já se passaram duas horas numa merda de uma consulta que já fiz, um dia, e demorou quinze minutos! Quinze!!!» Passo para o lado de lá da porta e encaminham-me por um labirinto de paredes, são dois ou três corredores...Olho a médica, ela escreve coisas que não foram feitas para eu ler... e fala-me em brasileiro de dentes cerrados... «Desculpe?». E não disse mais nada. Deu um trago no copo da água dela e olhou-me pela primeira vez... Faz-me uma pergunta que não consegui decifrar...- Desculpe, não percebi!- Tem que ser mais rápida a responder...E lá repetiu a pergunta, a custo, disparando,a seguir, num ror de perguntas que iriam contribuir para a minha aptidão laboral... «...ou não... mas quem sou eu...? A Doutora é que sabe!»Numa folha ficaram o meu nome, o nome dos meus pais, algunsdados sobre a minha saúde... sem que a medica imagine sequer quem eu sou ou o que faço na minha rotina... nem os problemas que atravesso! Mais uma "mosca" na vida dela... assim como todas as outras moscas que ficaram do outro lado da porta da sala de espera... o que nos distingue? Trinta a quarenta minutos! E desco de elevador... já me sinto cansada!

Moral da história? Não há! Foi apenas um desabafo meu... sobre as "portas" e as "moscas" na nossa vida!

1 Comments:

Blogger Tiago M. said...

não diria que fos-te mais uma mosca na vida da médica. uma mosca incomoda o suficiente para fazer notar a sua presença.
diria uma formiga. as formigas passam as informações entre si pelas antenas e seguem quase de imediato, sem que isso altere a sua rotina.

Tens mesmo de ver o fime "Acordar Para A Vida". está lá tudo.

10:56 da tarde  

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