segunda-feira, outubro 3

Diário de Meu Avô...


pelos olhos de meu avô... se via muito verde nas planícies... muito castanhas as árvores das florestas... e muito azul o céu refletido no mar!pelos olhos de meu avô... se via muitos doutores, muitos trajes, muitos estudantes e estudantas...pelos olhos de meu avô... já desgostoso deste mundo... se vêm agora as descendências... as ideias que ele deixou... expostas!no diário de meu avô... cheirei o fumo do seu cachimbo, vi-lhe os olhos ensanguentados por uma ou outra guerra civil... e, não satisfeita... li o diário até ao último dos seus dias de escrivaninha, de madeira antiga e máquina de escrever... "o barulho que ela fazia..." diria ele! também eu já nela escrevi... uma carta de amor para ti... uma carta de ódio para ti... um amor respeitoso... nasceu! entre ti e mim? entre mim e ti? Entre Nós!o orgulho de meu avô pela primeira neta a que se viu abraçado... a família toda reunida à volta... e eu não berrava... nem piava... a fotografia foi tirada em silêncio ou homenagem... a ELE! e em jeito de recordação... que guardo no peito! Todos os dias em que me deito! E agora, olho na fotografia que me faz chorar sem razão... e penso... Quão bravo, Quão inteligente, Quão Paciente comigo, ele teria de ser... se ainda me tivesse ao colo... muito depois dessa fotografia ser tirada!
Agora, anos a luz dessa fotografia... sei-o bem... tão bem como tu contas as estrelas do céu... que o meu avô, meu anjo da guarda... me respeita também... por pensamentos, palavras... actos e omissoes...Pois eu e ele... somos pescadores num Mar de incertezas... ou num Céu de luzes onduladas... que fazem muitas vezes lembrar a areia fina de certas praias...Ele olha por mim na distância de uma estrela... eu olho para ele e pisco-lhe o olho, em tom de brincadeira... Olhamo-nos em silêncio... e partilhamos experiencias... boas? más?... não julgamos... pois as vidas minhas e tuas de histórias não passam... TUDO depende... da voz com que cantas o teu fado!