terça-feira, março 29

A Imortalidade das Palavras... prólogo!

Linguagem da palavra, palavras de amor. A imortalidade. O sol já se põe, um dia de calor que passa. As palavras leva-as o tempo. Imortalidade a que nem todos se podem dar ao luxo. Através de actos mecânicos mentais vazios, procuro sempre, o porquê. Queria tanto que assim não fosse. Não pensar, não ser. Mas por ser, parece-me um caso impossível e nunca um caso isolado. Como um dia mais que passa, os sonhos, os pesadelos vão e vêm. Talvez como o sol, a lua e as nuvens. Altos e baixos. Pior do que isso, será o vazio do espaço, o buraco negro das trevas que sempre perseguimos infinitamente, o que nos separa.
O incómodo dualismo entre um céu aberto e um céu baço, cinzento e carregado de chumbo. O medo da chuva que teima em não cair.
E de fugida, as palavras imortalizam-se. E desvanecem os sonhos e os pesadelos. Tão depressa começam, como depressa acabam. Naquela verdadeira vista panorâmica do espaço, vazio que somos, temos sempre aquelas estrelas cadentes, tão rápidas como outrora, velocidade da luz. Essa luz rápida que, imortaliza as palavras, as horas e tudo o que sentimos de dentro para dentro, quando paramos no tempo e pensamos, nas palavras que nunca diremos.
O "não sei" que me persegue, não me diz se é bom ou mau. Conselheiro hipócrita! Mas sem medo, não sei bem de quê, vivo. Até sei, mas o coração bate tanto que nem me deixa responder… Salivo, suo e uma leve sensação de amor acolhe-me as pálpebras nervosas. Continuo sem saber o porquê disto tudo, mas tenho como quase certo que para alguma coisa servirá. As palavras e as horas não são casos isolados e autónomos. Existe um tempo e espaço para que as coisas possam acontecer. Cabe a cada um, nos actos mecânicos mentais vazios, idealizar um acto lógico dedutivo completo.
Sem medo, sem tabu, sem preconceito. Porque as palavras e as horas ninguém nos tira, quando verdadeiramente são nossas. E todo o sentido que possam ter, sempre serão nossas. Em cada, num sentido mais abstracto ou num sentido mais concreto. E este sentido faz-nos ser… Alguém, pelos actos, pelos exercícios, pelas atitudes, por tudo… Esse tudo que não será nada, se nunca lhe soubermos dar valor.
E este sentido faz-nos ser… imortais da palavra?

Ancient Poem

Fecho os olhos...
Oh! Doce ilusão!
Sinto os teus braços
apertarem-me com força
como se tivesses medo que eu fuja...
... Tolo!
Olho dentro dos teus olhos,
olhas também dentro dos meus,
e dizes que me adoras... baixinho,
numa língua que mais ninguém sabe,
só nós!
Aproximas-te,
aproximas os teus lábios dos meus,
tocas os meus lábios com os teus...
suavemente....
O calor da tua mão,
na minha face,
acariciando cada contorno,
cada espaço esquecido...
beijo-te a mão,
com toda a ternura que tenho!
Olho para ti mais uma vez...
mas tu já não estás aqui,
ainda sinto o teu calor...
enfraquecido pela distância,
enfraquecido...

quarta-feira, março 16

Há alturas em que o poeta consegue facilmente atingir "o sentir desenfreado da mão que escreve solta no pensamento". Como por exemplo, depois de uma noite na Espanhola, a tasca mais conhecida entre os estudantes de Viana.
Quando o corpo solta e se deixa levar pelo poder centrifugador da cama, que gira frenéticamente, surgem os mais genuinos pensamentos.
Deixo aqui o testemunho de uma dessas noites, num poema que surgiu como raio alucinado e de uma acentada só.

Estou quente
Estou pesado
Mais bêbado que borrachão
Só aguento deitado
Na rua, no chão
Antes isso que pedrado
Prefiro alcoólico
De corpo mole
A ganzado sem reacção
Pelo menos ainda penso
Pouco, mas reajo
O corpo é que não
Sei que faço
Mas não controlo
Sei que penso
Sei que digo
Mas meu corpo
Meu corpo sem senso
Fica aqui perdido.

segunda-feira, março 7

História minha... quem sabe tua?

Eram 16h15 quando o meu pai, a minha avó e eu nos dirigíamos para a sala de espera... ainda faltavam 15 minutos! Sentia-me ansiosa por ver como ela estava, e ao mesmo tempo receosa... na noite anterior ela tinha sido levada de urgência para o bloco operatório! Estaria melhor? O meu pai foi falar com a enfermeira por causa de um papel que confirmava a presença dela nos cuidados intensivos do S. João. Burocracia. Treta legal. O meu pai voltou a sentar-se ao nosso lado. A enfermeira voltou para a sala onde estavam os pacientes. A hora da visita aproximava-se mas ainda não tinham anunciado quem esperava. Os ponteiros do relógio marcavam segundo após segundo, e eu seguia-os com o olhar, lá no alto, pendurados na parede, distantes e indiferentes. A enfermeira voltou e chamou o meu pai. Começou-se uma conversa que eu não conseguia captar mas percebi que algo não estava bem. A minha avó juntou-se à conversa, eu permaneci quieta, inerte na cadeira. A minha avó começou a chorar e o meu pai tinha lágrimas nos olhos! O meu pai! Nunca o vi chorar! O meu pai não!!! O que se tinha passado?! Não! Não pode! Tenho que saber! Levanta-te!! Não consigo! Não tenho coragem! Não estou preparada para ouvir aquilo que penso! Se alguém disser o que estou a pensar, não sei... não sei o que faço! Ninguém fala! CALEM-SE TODOS!!!!!! De repente ouço: "Ela está no bloco operatório! Vamos!" Era o meu pai! Descemos ao piso zero... eu precisava de sair dali! "Vou carregar o telemóvel, encontro-vos lá em cima!"
"Talvez não, afinal tens que carregar agora? Não pode ficar para depois?"
"Não!"
"É que podemos não voltar lá acima!"
"Porquê?"
"Ela pode não sobreviver!"
Viro-me e dirijo-me para a caixa multibanco! Ainda ouço a minha avó dizer: "Encontramo-nos lá em cima!". Não a vi, não podia deixá-la ver-me chorar! Carreguei o telemóvel e dirigi-me para o parque em frente ao hospital... tinha comigo a companhia de dez cigarros e um iced tea de pêssego. Comecei a fumar. Comecei a chorar. Bebi. Solucei. E chorei. Pensei! Pensei muito nela! Recordei um momento em particular com ela e com o meu pai em que pude ter um olhar diferente sobre ela... vi a menina dentro dela, mais brincalhona! Gostei e ri com ela! Rimos os três como uma família... como nunca nos tínhamos rido!
Eles não acreditavam que ela conseguisse passar mais uma volta naquele precipício! Eles perdiam a fé aos poucos... eu perdi-a toda de uma só vez! Não imaginei a possibilidade de um novo amanhã! Era o fim! Num ímpeto de raiva quis bater-me, espancar-me... eu merecia sofrer!! Eu nunca lhe havia antes dirigido uma palavra ou um gesto de carinho... muito menos de Amor! E a minha última conversa com ela tinha ocorrido sob o efeito de calmantes... ela estava drogada!! E nem aí eu fui capaz de lhe dizer que a Amava!! Nunca pensei vir a poder arrepender-me! Agora podia ser tarde demais! Precisava falar! Precisava desabafar! Peguei no telemóvel e falei com o Hugo... naquele dia ele não estava de serviço lá... Boa! A Ana podia vir cá... mas é sábado... ela está com o namorado! E ainda não lhe contei nada disto! Não! Ia ser forte demais! Depois, com calma, conto! E já não falo com ela há algum tempo! Ela pode pensar que só lhe falei por tar a precisar! Interesseira, não! Isso não! Esquece! O Ricardo? Esquece... está nos treinos, não levou telemóvel! Estou sozinha! Meu Deus, estás aí? Aproxima-se uma cigana e pede-me um cigarro, ao que simplesmente respondi, ainda com lágrimas nos olhos: "Desculpa mas tenciono fumá-los todos!" Ela percebeu... e foi embora! Já não sabia o que fazer! Não podia fazer nada! Espera! A mãe da Sara tem poderes paranormais (ou diz que tem)! Vou-lhe pedir que reze por ela! Mal não faz! Ela respondeu que não pode, têm visitas e o dia seguinte era domingo, ao domingo não se pode rezar! "Obrigada", mas amanhã seria já tarde demais! Ela não percebeu a minha angústia... ou não quis perceber! Tudo dependia da minha promessa a Deus! Todos prometem qualquer coisa nestas alturas! O que se deve prometer? Uma ida a Fátima? Demasiado vulgar... Os pensamento voaram... os cigarros acabaram! Foi o sinal! Fui para dentro e encontrei o meu pai, andava à minha procura! "Tive lá fora no parque a beber o iced tea!" Os olhos não enganavam e tu viste que eu chorei! Não podia nunca esconder isso... A leitura dos olhos vermelhos e verdes, inchados! Chorou! A minha avó estava à minha espera na sala de espera dos cuidados intensivos. O meu pai voltava ainda ao bloco operatório! "Encontramo-nos lá em cima!" Subi ao 6º andar, percorri aquele corredor longo, que parecia prolongar-se cada vez mais, e eu no meu passo lento, de quem não quer antecipar o inevitável. Cheguei à sala de espera e não vi a minha avó, só lá estava uma senhora. Perguntei-lhe se tinha visto uma senhora idosa, baixa, com cabelos loiros. "Não!" Apareceu a enfermeira... perguntei-lhe... ela reconheceu-me e disse que não valia a pena procurá-los porque eles acabariam por lá ir! Sentei-me e mandei mensagem ao Ricardo! Ele pede para lhe ligar... pede-me para desabafar! Fui para o largo dos elevadores, perto das escadas! Aqui é mais frio! "Estou? Ricardo?" A bateria dele foi abaixo... um toque dele! "Ricardo?" Foi abaixo outra vez!
"Então Ricardo? Que se passa?"
"A bateria não me deixava falar contigo... atirei o telemóvel contra a parede! Mas fala comigo! Como estás?"
Contei o que se tinha passado... Falamos um bocado! De repente o elevador parou ali! "Pode ser o meu pai, deixa ver!" As portas abriram-se e saíram de lá três ou quatro enfermeiros a levar uma maca com alguém lá dentro... Espreito... É ela...
Sinto uma lágrima a cair rapidamente pela minha face e a acabar no pescoço. Ela conseguiu! Ninguém acreditou! Mas ela venceu outra vez! Já foram muitas... mas ela é mais forte do que parece! Ela é a minha mãe!

Este último fim-de-semana ela pediu-me para lhe lavar e cortar o cabelo... Assim o fiz! Depois de cortado, peguei num secador e comecei a secá-lo! Com cuidado para não a magoar, fui, aos poucos, esticando-lhe o cabelo! "Que tal? Estás a gostar? Aqui a tua filha ainda sabe umas coisas!" Disse eu com um sorriso! "Vou fazer de ti minha cabeleireira pessoal!" E deu-me um beijo, ja com lágrimas nos olhos! Foi o meu maior prazer destes últimos dias! E valeu por todos os dissabores que senti, por todos os conflitos qe enfrentei, por todas as noites em claro, por todas as lágrimas... Porque ela é a razão, e ela merece tudo isso!

]JuLiE[

sábado, março 5

random thought

O vício do poeta escritor não é mais do que o sentir desenfreado da mão que escreve solta no pensamento.

]JuLiE[