sexta-feira, outubro 21

Inconsistência

Fatalidades atrozes de sua boca

Farpas lascadas duma tábua quebrada

Borboletas com espinhos pousam nas rosas

E outras flores de meu jardim


As águas agitam por penas de pomba

Lançadas com a força desmedida de gigante

Lama que se levanta em vermelho sangue

Nas ondas de onde a pena pousou


Felicidades atrozes parece-me sentir

Estímulos lascados duma mente insana

A dor de não sentir o ponto de quebra

E um alívio suave de início

Reconfortantemente desconfortável


Alegra-me este mal-estar saudável

Este rir do que dói

Rir por chorar e chorar de rir por doer


Mil cortes por uma faca de algodão

Corpo talhado em pequenas incompreensões


Abalo sísmico em suas palavras

Fendas que se abrem perante meus pés

O passo em frente sou eu quem o dá

Caio e sempre sinto que não caio


Sempre errei nas coisas certas que fiz

Mesmo nas que fiz por querer errar


Salva-me mar

Salva-me água

Brilho do Sol no espelho do Mundo

Fundo de mim no fundo do mar


Mata-me amar

Mata-me a mágoa

Brilho dos olhos sozinhos

Luz de mim para mim



Tiago Martins, 21 de Outubro de 2005.

sexta-feira, outubro 14

O "meu" Romance Actual


Onde está o príncipe do meu conto de fadas?
Onde... a flor colhida no caminho?
Onde... as palavras doces, as carícias carinhosas entre o olhar fixo enlacrimado? Aquele olhar que dispensa as palavras já gastas... e as transforma em um momento mágico... esse momento mágico em que o brilho nos olhos revela... «És só tu, pequena!»
Onde... o cavaleiro armado que percorre o infinito para salvar a princesa?
Onde... o beijo que faz nascer borboletas na barriga e as faz bater as asas tão fortemente que o beijo acaba em risos... cúmplices?
Onde... o abraço terno e enamorado antes de adormecer?
Onde... os teus braços para me deitar... e sonhar... e rir... e chorar... e dançar?
São tantas as histórias que fazem sonhar meninas de vestido bailarina, meninas de cabelos aos caracóis, olhos inocentes, e sorrisos sinceros... meninas que esforçam a elegância de uma ou outra princesa, deste ou de outro conto de fadas... meninas que adormecem abraçadas ao peluche... que lhes foi oferecido!
Hoje, essas meninas-mulheres vêm o conto de fadas já destruído... a flor morreu e deu lugar ao tão conhecido café, ou copo! Os toques carinhosos são agora as mãos atrevidas de um ou outro senhor! As palavras doces foram trocadas por palavras intensas de paixão e fogo... nos olhos, que olham mais fixos, mais secos de sentimento e preenchidos de desejo! O cavaleiro corajoso e apaixonado morreu na batalha,... e já ninguém percorre reinos e castelos para matar uma dor de solidão!

No profundo silêncio que nos separa, ouço um piano tocar a mais bela melodia... nesta distante escuridão, sinto presente as cordas frágeis de um violino... Acende-se uma luz ténue que faz descobrir a cor negra do piano e da rosa que ali colocaram... Não há ninguém a tocar os instrumentos... mas a música é incessantemente bela!

Por ti, meu príncipe, cessou este piano de tocar...

segunda-feira, outubro 3

Diário de Meu Avô...


pelos olhos de meu avô... se via muito verde nas planícies... muito castanhas as árvores das florestas... e muito azul o céu refletido no mar!pelos olhos de meu avô... se via muitos doutores, muitos trajes, muitos estudantes e estudantas...pelos olhos de meu avô... já desgostoso deste mundo... se vêm agora as descendências... as ideias que ele deixou... expostas!no diário de meu avô... cheirei o fumo do seu cachimbo, vi-lhe os olhos ensanguentados por uma ou outra guerra civil... e, não satisfeita... li o diário até ao último dos seus dias de escrivaninha, de madeira antiga e máquina de escrever... "o barulho que ela fazia..." diria ele! também eu já nela escrevi... uma carta de amor para ti... uma carta de ódio para ti... um amor respeitoso... nasceu! entre ti e mim? entre mim e ti? Entre Nós!o orgulho de meu avô pela primeira neta a que se viu abraçado... a família toda reunida à volta... e eu não berrava... nem piava... a fotografia foi tirada em silêncio ou homenagem... a ELE! e em jeito de recordação... que guardo no peito! Todos os dias em que me deito! E agora, olho na fotografia que me faz chorar sem razão... e penso... Quão bravo, Quão inteligente, Quão Paciente comigo, ele teria de ser... se ainda me tivesse ao colo... muito depois dessa fotografia ser tirada!
Agora, anos a luz dessa fotografia... sei-o bem... tão bem como tu contas as estrelas do céu... que o meu avô, meu anjo da guarda... me respeita também... por pensamentos, palavras... actos e omissoes...Pois eu e ele... somos pescadores num Mar de incertezas... ou num Céu de luzes onduladas... que fazem muitas vezes lembrar a areia fina de certas praias...Ele olha por mim na distância de uma estrela... eu olho para ele e pisco-lhe o olho, em tom de brincadeira... Olhamo-nos em silêncio... e partilhamos experiencias... boas? más?... não julgamos... pois as vidas minhas e tuas de histórias não passam... TUDO depende... da voz com que cantas o teu fado!

domingo, outubro 2

POLÍTICA à FORÇA toda... lol


hoje foi um dia deveras especial... um dia de política!
juntaram-se os principais deputados numa mesa...
foi entao que começou a discussão!
discutiram-se os restaurantes...
discutiram-se as presenças...
discutiram-se as cadeiras...
discutiram-se as comidas...
discutiram-se os bebes...
discutiram-se as pagas...
discutiram-se os desejos...
discutiram-se os trocos...
discutiram-se os bolsos...
discutiram-se os tamanhos desses bolsos...
discutiram-se o material desses bolsos...
entao, quando descobri que um dos bolsos era feito de plástico... mandei-lhe a REAL boca líquida, e passo a citar:
- Ó Sê reitor, quando é que começa a bilharada?
Ao que ele me respondeu:
- Qual? A de Bolso?
e eu disse entre dentes:
- Essa já foi discutida... só faltam as bolas e os tacos...
e ele respondeu:
- Sim sra dra! é já... a seguir!
Entao ele pegou-me no braço e levou-me dali para fora a conhecer Portugal...
Vi montanhas, vi ursos, vi vales, vi ursos, vi apartamentos, vi ursos... etc.
E, pouco à vontade, perguntei:
- Ó sê Reitor, aqui em Portugal há tantos ursos... abriram-se as portas do Zoo?
E ele olhou-me naquele olhar charmoso de Pessoa, com idade... e disse:
- Ó minha menina, minha neta, minha filha... URSOS, não há só no Zoo... há em todo o lado, uns velhos, outros novos, uns homens, outros vestidos de mulher, uns cansados, outros speedados... Aqui há Ursos de todos os lados... OS chamados emigras, ou migras, ou mitras... são todos Ursos na hora de trabalhar... ou de pôr as Ideias na mesa... e resolvem fazer tempestades em outros lugares fora de Portugal, mas... quando a FOME aperta... é aqui ao PAI NATAL que vêm pedir desejos... TU foste a única que me ouviste até ao fim e depois fugiste, pois então... também na Bíblia de nós todos há uma história semelhante... mas deixa lá... o filho pródigo nem sempre é rapaz, nem sempre gosta de comer frango... o chamado PITO! só que para este PAI, és a filha mais DOUTORA que esta UNIVERSIDADE já viu caminhar descalça!
E quando as lágrimas já jorravam pela minha face, a custo, passando nos lábios e fazendo um pequeno lago no regaço do meu pescoço, O SR REITOR virou o carro e levou-me para casa com o ar sério de quem usa óculos para não chorar por mim... para não ME mostrar, que também ELE, com tão alto cargo... já passou "as passas" do Algarve sentado à beira mar a lembrar a FAMILIA que havia deixado um dia em BRAGA...
Quando chegamos a minha casa ele perguntou se eu estava bem, e eu, com um sorriso manhoso chamei-o:
- Avô, tenho saudades suas... lá em casa toda a gente me pergunta por si... e eu não sei o que lhes responder... posso dizer-lhes que está bem? só para sossegar toda a gente?
E ele berrou-me ao ouvido:
- Diz apenas que tiveste a rezar uma missa cantada ao pé da Igreja do Galo... Eles vão perceber!
- Mas se eu disser isso eles vão pensar que eu ando maluca! E fama de Maluca já eu tenho nesta cidade... infelizmente!
- Vai... e espalha a Palavra, minha pequena espalha-brasa! Como Orson Welles, ou outro filho meu qualquer, disse uma vez: pouco me importa que falem mal de mim nas minhas costas... desde que falem! E tu, minha pequena, podes falar no tom de voz que quiseres... pois EU SEI... que falas apenas nas palavras da Verdade!
Deu-me um beijo na testa, abriu-me a porta do carro e desapareceu no horizonte, a caminho do Sol!
Ainda me questiono quem será essa Verdade... mas é como ele diz... Eu falo por ela...
ps: não quero palmas, não quero livros, não quero capas traçadas na hora de eu passar... quero ser EU, à vontade... na hora das VERDADES TODAS me SAIREM DISPARADAS da boca não quero pistolas, nem gatilhos, não quero costas protegidas, não quero nada... SÓ PRECISO DE UM LOCAL... UM CAFÉ... UMA ESPLANADA... COM MUITA OU POUCA GENTE? NÃO ME INTERESSA... LOGO QUE SEJAM MEUS AMIGOS... E NÃO ME QUEIRAM MAL ALGUM... eu sou amiga de muita gente influente ou influenciável,... o problema está em reconhecer essa muito boa gente em FESTAS de Aníversário... ninguém me convida porque já sabem que DANÇO o bailinho da MADEIRA melhor que elas... ;)
SOS